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Vera Mantero

Baldio

“A maior divisão entre o trabalho material e o trabalho intelectual é a separação da cidade e do campo. A oposição entre cidade e campo começa com a passagem do sistema tribal para o Estado, a passagem da localidade para a nação. A oposição entre cidade e campo é a expressão mais crassa da subordinação do indivíduo à divisão do trabalho, subordinação a uma actividade determinada que lhe é imposta [e que é apenas uma ínfima parte da produção de um objecto no seu todo, ou de uma actividade no seu todo. Dito de outro modo, ínfima parte da construção de sentido, da construção de sentido para a vida].

Esta divisão do trabalho faz, de um, um animal limitado da cidade, do outro um animal limitado do campo; e a cada dia produz mais e mais a oposição dos interesses de ambos. O trabalho é aqui a questão central, ele é o poder sobre os indivíduos, e enquanto este existir tem de existir também a propriedade privada. A abolição da oposição cidade-campo é uma das primeiras condições da comunidade. Condição que depende de um grande número de premissas materiais e que a simples vontade não consegue preencher, como qualquer pessoa vê à primeira vista”. (in A Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friederich Engels)

Há que re-aproximar cidade e campo.

Venha ver
à segunda vista.

instruções prévias [ou algo do género, como quiserem]: se estiver em Lisboa, esta gravação deverá idealmente ser ouvida num local específico a uma hora específica. Vá até à Praça do Campo Pequeno, de preferência ao fim da tarde, perto das 19h30, entre pela rua
de Entrecampos e percorra-a até não poder avançar mais, junto à linha do comboio. Aí encontrará uma passagem de peões para atravessar
a linha mas não atravesse: vire para a direita passando por baixo da passagem e prossiga junto ao muro contíguo à linha. Estará a entrar num terreno baldio. Vá sempre em frente, seguindo o caminho de terra e, quando esse pequeno caminho bifurca, vire para o lado direito, subindo o pequeno declive. Terá um pequeno muro semi-destruído à sua esquerda e nele uma zona indicada para se sentar. Sente-se em cima do muro virad@ para a linha do comboio e inicie a audição da gravação. Se não estiver em Lisboa, procure uma linha de comboio dentro da cidade que seja contígua a um terreno, baldio cultivado de preferência, mas também pode ser um baldio puro.

A partir de textos de Luís Quintais, Vera Mantero e uma conferência de Carolyn Steel.

Tim Etchells em conversa
com Vera Mantero

Bio

Estudou dança clássica com Anna Mascolo e integrou o Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989. Começou a sua carreira coreográfica em 1987
e desde 1991 tem mostrado o seu trabalho, a solo ou em grupo, por toda a Europa, Argentina, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, EUA e Singapura.
Dos seus trabalhos destacam-se os solos “Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois” (1991), “Olympia” (1993), “uma misteriosa Coisa,
disse o e.e.cummings*” (1996), “O que podemos dizer do Pierre” (2011) e “Os Serrenhos do Caldeirão, exercícios em antropologia ficcional”(2012)
assim como as peças de grupo “Sob” (1993), “Para Enfastiadas e Profundas Tristezas” (1994), “Poesia e Selvajaria” (1998), “Até que Deus é
destruído pelo extremo exercício da beleza” (2006) e “Vamos sentir falta de tudo aquilo de que não precisamos” (2009).
Participa regularmente em projectos internacionais de improvisação ao lado de improvisadores e coreógrafos
como Lisa Nelson, Mark Tompkins, Meg Stuart e Steve Paxton. Desde o ano 2000 dedica-se igualmente ao trabalho de voz,
cantando repertório de vários autores e co-criando projectos de música experimental.
Em 1999 a Culturgest organizou durante um mês uma retrospectiva do seu trabalho realizado até à data e que se intitulou
“Mês de Março, Mês de Vera”. “Comer o Coração”, criado em parceria com o escultor Rui Chafes,
representou Portugalna 26ª Bienal de São Paulo 2004.
Ensina regularmente composição e criação em Portugal e no estrangeiro.
No ano de 2002 foi-lhe atribuído o Prémio Almada (IPAE/Ministério da Cultura Português)
e no ano 2009 o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira como criadora e intérprete.
Em 2013 criou as instalações performativas “Oferecem-se Sombras” e “Mais Pra Menos Que Pra Mais”,
esta última para o aniversário dos 20 anos da Culturgest.